sábado, 23 de dezembro de 2006

Conto de natal



Criança tem cada uma, pensou o pai do Gustavo, quando o menino de cinco anos disse-lhe que gostaria de ganhar como presente de natal uma chaminé.

-Chaminé, meu filho? Estranhou o pai.

-É, pai; Sem chaminé, como é que o papai noel vai entrar e deixar os presentes?

O pai disse que o papai noel sempre conseguia uma forma de entrar nas casas para presentear as crianças que foram obedientes e boazinhas durante todo o ano e que, além disso, certamente não haveria chaminés de brinquedo para vender.

-Mas eu quero uma de verdade, daquelas de tijolinho, pai!

-Só quem tem lareira em casa é que tem uma chaminé dessas! Tentou argumentar o pai

-Uma lareira neste canto da sala ficaria lindo, disse a mãe, que ouvia a conversa calada até aquele momento.

-Ai! Suspirou o pai, prevendo a derrota iminente agora que eram dois contra ele.

-Reforma faz uma bagunça em casa, gente!

E a mãe e o Gustavo, ali, irredutíveis.

Contratou um arquiteto e com o projeto em mãos, pôs-se a procurar um bom pedreiro para executar a obra e realizar o sonho de seu filho.

Não imaginava ser tão difícil conseguir um profissional para construir uma chaminé. Todos aqueles que conhecia estavam ocupados trabalhando em outras obras e enquanto ele procurava o tempo ia passando e dezembro se aproximando, e o filho cobrando, e a esposa dizendo que ele havia prometido e que desse um jeito de construir essa chaminé, senão o filho ficaria frustrado e de repente tocou a campainha.

Ele mesmo atendeu. Era um senhor já de idade que disse ter ficado sabendo que ele queria construir uma chaminé com lareira para o filho, que era especialista e já construira várias em sua terra natal, um país frio da Europa, e que agora, no Brasil, continuava trabalhando, apesar da idade, apenas como hobby. E disse também que forneceria todo o material necessário à construção, pois fazia questão que só fossem utilizados materiais de primeira qualidade.

Combinaram o preço, que pareceu bem razoável e o pai do Gustavo, respirou aliviado.

No outro dia, bem cedinho, o velhinho estacionou sua camionete antiga na porta da casa e começou a descarregar os materiais. Fazia tudo devagar e sozinho e como num passe de mágica a lareira começou a brotar do chão. Saía na hora do almoço, voltava com mais tijolos, pedras e trabalhava até a noitinha. E assim os dias foram se passando e a chaminé subindo. Seguia o projeto, mas acrescentava detalhes decorativos de indiscutível bom gosto por conta própria.

Toda a família estava encantada com a obra e impressionada com a rapidez da sua execução. O pai dizia que todo pedreiro deveria trabalhar assim; a mãe elogiava a beleza da lareira e a empregada, o cuidado do velho com a limpeza. Nem pó havia! E o Gustavo afirmava que tinha visto duendes ajudando o Sr. Claus.

-Sr. Claus? Disseram o pai e a mãe ao mesmo tempo. Só agora se lembraram que sequer haviam perguntado o nome do construtor.

Ele era um senhor de cabelos brancos, muito simpático e sorridente. Gostava muito de conversar com o Gustavo e ria muito das perguntas que o menino fazia enquanto trabalhava.

Um dia, mexendo em sua caixa de ferramentas o garoto encontrou, entre martelos e talhadeiras, uma peça dourada, muito brilhante, com cabo de madeira e perguntou ao Sr. Claus o que era aquilo. Ele limitou-se a dizer que era uma sineta que ele usava em outro serviço que fazia há muito tempo.

Na antevéspera do natal a chaminé estava pronta. Os tijolos, de uma simetria espantosa, brilhavam com o verniz recém aplicado, no aparador da lareira, a pedra negra trazia nas bordas entalhes de símbolos natalinos e a grelha, trabalhada em arabescos, reluzia no seu interior.

Maravilhados com o resultado todos elogiaram o trabalho do Sr. Claus, que agradeceu sorrindo – HO-HO-HO - e disse que sairia para o almoço e voltaria mais tarde para fazer o acerto.

Nunca mais apareceu. Sumiu como se nunca houvesse existido, deixando no vazio de sua ausência, admiração e perplexidade.

Mas o Gustavo jura que na noite do natal ouviu com seus ouvidos inocentes um ruído. Levantou-se, e pé-ante-pé, foi até à sala e viu o Sr. Claus colocando doces nas meias dependuradas na lareira.

-Sr. Claus?

-Esqueci algumas ferramentas aqui e vim buscá-las. Feliz natal, Gustavo!

-Feliz natal, Sr. Claus! E correu até a janela a tempo de ver o trenó puxado pelas renas se afastar.

Mas pouca gente acredita nele.









 

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