segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

A vingança do colesterol


Um dia cansei-me de querer ser magro. Ou ficar magro por um longo período de tempo, já que o gordo é sempre gordo, não importando quantos quilos ele esteja pesando e esta inexorabilidade genética sempre vence.
Não se luta contra o DNA. Não com esperança de vencer.
Quem não se lembra das aulinhas de genética onde o professor ensinava que o fenótipo é a representação física daquilo que o genótipo programou como surpresa para você? E você se mira frente ao espelho, vê o diâmetro do seu fenótipo e nota que este tal de genótipo lhe pregou uma bela peça.
É ele que molda o seu rosto, que colore seus olhos e também que determina as preferências e dimensiona a voracidade do seu apetite. E o que seu organismo faz com tudo aquilo que você engoliu.
Este pesado fardo genético você vai arrastar pela vida afora na forma de gordura localizada, celulite, pneus, dobrinhas, barriga e... banha mesmo.
E atendendo aos impulsos deste DNA esfomeado você segue comendo, devorando tudo que lhe oferecem, sempre querendo mais, sem nunca conseguir saciar esta fome atávica.
Num mundo que valoriza a longelinidade como modelo de um corpo perfeito, a esfericidade dos corpos obesos pode constituir um problema estético e outro psicológico, alem do espacial, pois você ocupa mais espaço que aqueles magrelos e tem que se espremer para passar num mundo feito para magros. O problema estético está na cara, aliás, está na cara, na barriga, no culote e em todas as protuberâncias impugnadas pela nossa cultura e o psicológico reside na culpa de não conseguir se enquadrar às imposições desta sociedade opressora.
Mas a vingança dos gordos será muito maior do que a imposição ao mercado da calça com cós de elástico e a abolição definitiva da lycra e do suplex, pois num mundo com uma produção excedente de alimentos e uma indústria crescente fabricando cada vez mais alimentos com altos teores de gordura e carboidratos e a publicidade promovendo a venda destas guloseimas, logo a maioria da população será de gordos e o mundo terá que se adaptar a esta nova realidade e então tudo será maior e mais espaçoso e os magros é que terão que levar suas calças até a costureira para serem ajustadas ao seu corpo e serão eles os apontados durante o jantar pelos gordos enquanto comentam, entre uma garfada e outra:
_Olha só que horror, este deve ser mais um daqueles que não comem nada o dia todo!
E ainda o usarão como exemplo para os filhos dizendo que se não comerem aquele X-bacon duplo com catupiry, ficarão iguais a ele, magro e esquálido. Envergonhado com sua incapacidade de se adequar aos novos padrões, o magro terá que recorrer às lojas especializadas que surgirão para fornecer roupas com enchimento interno para arredondar sua silhueta repulsiva. Mas será logo desmascarado, um gordo autêntico só se faz com anos a fio de ingestão de muitos doces, sorvetes, massas e gordura animal. E prisão de ventre.
Não é para qualquer um.





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